Asterios Polyp - David Mazzucchelli

 

Asterios Polyp é uma das várias histórias que leio sem saber absolutamente nada sobre. A primeira vez que vi, anos atrás numa livraria, o que me chamou a atenção foi a capa “minimalista” e estilizada. Apenas um homem sério, seu nome (eu acreditava que era o nome daquele personagem), e sobreposição de cores: o azul com o vermelho. Mal imaginava que essa seria o grande diferencial para o seu conteúdo. Vendo em mãos, olho a parte de trás, trazendo o mesmo homem agora em um traje mais “simples”. A capa é azul e rosa, a parte de trás é amarela. Mais para frente, isso vai se explicar.

Fui saber, pouco antes de comprar que ele se tratava de um clássico dos quadrinhos: vencedor de vários prêmios. Vou deixar a lista aqui, copiada da internet (by ChatGPT):

  • Eisner Awards (2010)
    • Melhor Graphic Album: New
    • Melhor Autor/Artista (Writer/Artist)
    • Melhor Lettering
  • Harvey Awards (2010)
    • Melhor Livro Original (Best Original Graphic Album)
    • Melhor Artista (Best Artist)
    • Melhor Colorista (Best Colorist)
    • Melhor Letreirista (Best Letterer)
    • Melhor Designer de Publicação (Best Publication Designer)
  • Los Angeles Times Book Prize (Graphic Novel Category, 2009)
  • IGN Award (2009)
    • Melhor Graphic Novel

Me animei a ler, afinal não deveria ser qualquer coisa. E assim comecei a primeira tentativa. E quando digo primeira tentativa, tem que se levar em conta vários fatores. Leio no metrô, e nem sempre dá para manter a regularidade. Acontece de ficar alguns dias sem ler, e isso me faz perder o ritmo, e até detalhes da história. Esses detalhes foram muito úteis na segunda tentativa. A história e as referências são carregadas de simbolismos.

Asterios é filho de imigrantes gregos. Seu sobrenome foi cortado pela metade durante o processo de imigração, por um funcionário preguiçoso. Professor catedrático de arquitetura, pois tem uma grande reputação de “Arquiteto de Papel”, quer dizer que apesar de possuir obras reverenciadas, nenhuma foi construída.

A história se desenrola em, digamos, três tempos. O passado do professor, onde conta rapidamente sobre sua infância, na qual era uma criança que adorava estudar e aprender. Sobre sua vida na universidade, e finalmente a vida ao lado de sua esposa Hana Sonnenschein, uma jovem professora de arte da universidade de Ithaca. Hana significa flor em japonês (por parte de mãe), e Sonnenschein, em alemão (por parte de pai), significa “luz do sol”

Passamos a conviver com um professor cheio de si, arrogante, preconceituoso, racional e pragmático. E Hana por sua vez é o seu oposto: introspectiva, sensível e emocionalmente contida. Seu passado, sendo a caçula com quatro irmãos mais velhos, ela é sempre deixada fora dos holofotes. E vê o professor como sendo sua luz. Com o decorrer da história, vemos que a a luz dele é justamente a professora Hana.

No “presente” do professor, vemos ele recomeçar a vida depois de um incêndio que destruiu seu apartamento. Uma vida simples em uma cidade do interior, vivendo de favor, e trabalhando como mecânico para um simpático dono de oficina, chamado Stiff. Tendo que se redescobrir e rever sua vida, que apesar de parecer ter sido perfeita, foi sendo minada por várias de suas atitudes e sua arrogância. Nesse meio ele convive também com Úrsula, esposa de Stiff. Uma mulher de presença forte, e fortemente ligada a cultura xamânica. Sua filosofia mistura sabedoria cotidiana e espiritualidade. Ela acaba sendo sua guia para a reconstrução de Asterios. E o pequeno Jackson, filho do casal Stiff e Úrsula.

 
O terceiro tempo que vou chamar de “sonho”. São momentos em que ele interage com o seu irmão gêmeo natimorto. Ignázio não sobreviveu ao parto, e esse vira sua sombra, quase um fantasma que o “persegue”. Lendo pela segunda vez, percebi que é ele quem narra a história.
 
Um detalhe que salta aos olhos quando você percebe lendo, e não consegue mais parar de prestar atenção, são os balões de fala: Asterios possui balões quadrados, e a fonte séria. Enquanto os outros personagens possuem balões e letras que definem sua personalidade. Exemplo para a Hana que tem os balões mais redondos, uma forma mais fluída, e a fonte de sua fala é cursiva. Mostrando assim o seu contraste mais moderno e contrastante com o sempre lógico Asterios. Ou Úrsula, esposa de Stiff, que tem uma fonte e um balão mais despojados, combinando com sua forma mais voltada para a espiritualidade de ver o mundo.

Outro ponto que chama a atenção, é a escolha das cores: Asterios é sempre pintado pela cor azul, representando sua frieza e rigidez intelectual. Hana por sua vez é desenhada de rosa, que demonstra sua sensibilidade e espontaneidade, contrastando com Asterios. Amarelo indica a renovação, e o roxo a dualidade e o conflito entre a razão e a emoção. A junção de Asterios (azul) e Hana (rosa).

O maior simbolismo apresentado na história, é o de dualidade: razão e emoção, masculino e feminino, individualidade e comunidade, corpo e mente, entre outros. Mazzucchelli entrega uma obra recheada de detalhes artísticos, sejam nas cores, nos traços, nos balões de fala, quanto na mesclagem de elementos opostos. Quando personagens de cores diferentes se juntam, e suas cores se fundem.

Optei por não me aprofundar muito na história, pois quero muito que todos tenham a chance de ler e descobrirem esse mar de ideias, referências, artes, filosofias, e detalhes que parecem escondidos, mas estão na nossa cara o tempo todo. Enquanto escrevo o texto, estou pesquisando fontes e informações sobre os personagens e a construção do quadrinho. E tem muita coisa para ser dita: referências filosóficas, comparações entre os principais casais Asterios/Hana e Stiff/Úrsula. Acredito que consigo futuramente juntar esses detalhes e escrever um segundo artigo sobre essa incrível Graphic Novel.

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